“CHAMADOS PARA O DESAFIO”
1ª Leitura Isaias 6, 1-2 a. 3-8
Salmo 137 (138)
1ª Leitura 1 Cor 15, 1-11
Evangelho Lucas 5, 1-11
Podemos imaginar a
situação dos discípulos, André, Pedro, Tiago e João, no momento que foram chamados por Jesus á margem do Lago de
Genesaré, quando trabalhavam duramente limpando suas redes dos “enroscos” que
havia nelas, após uma noite de pescaria fracassada. É bom lembrar que
tratava-se de um trabalho profissional e não de uma pescaria de lazer, como é
uma prática mais perto da nossa realidade.
A proposta de Jesus ao
grupo de pescadores parecera descabida, ele pedia-lhes para que insistissem em
uma tarefa, que não dera certo ao longo de uma jornada inteira
de trabalho noturno, de
um jeito diferente, jogando as redes onde ele fosse indicar.
Ora, que profissional
aceitaria orientação de um estranho em seu trabalho? O horário era
desfavorável, quem conhece o litoral sabe que os barcos pesqueiros trabalham à
noite, e que de manhã é hora de contabilizar os ganhos com a descarga dos
peixes na praia. A proposta vinha como um desafio e implicava em aceitar ou não
a palavra de Jesus. Após terem aceitado, fizeram conforme o Senhor lhes
ordenara e o resultado fora surpreendente: as redes não resistiram a
quantidade de peixes
apanhados, sendo necessário partilhar a tarefa com companheiros da outra barca.
Nas barcas de nossas
comunidades o resultado do nosso trabalho nem sempre é o que esperamos, pois é
preciso estar sempre preparados para o fracasso das “noites” em que as redes
voltam vazias, com “coisas indesejadas” que somos obrigados a ‘limpar”,
buscamos a santidade de uma vida em comunhão, na justiça, partilha,
fraternidade, mas muitas vezes acabamos encontrando fofocas, intrigas,
divisões, coisas que estão em nossa rede embora não façam parte da vida da
comunidade, não as queremos, ninguém as deseja, mas elas estão lá, exigindo um
trabalho de superação que requer muita paciência e compreensão. Quem já tirou
enrosco de uma linha de pesca ou de uma rede, sabe que não é tarefa das mais
fáceis.
E de repente, em meio a
essa tarefa somos chamados como os primeiros discípulos a “irmos mais fundo”,
avançando para águas mais profundas. Será que o nosso papel na comunidade é só
ficar consertando as coisas que não deram certo? Claro que não!
A missão primária da
igreja não é a excessiva preocupação com sigo mesma, sua estrutura e seu
funcionamento, mas sim em anunciar aos de fora o evangelho de Cristo. Por
experiência própria e muitas vezes por puro comodismo, achamos que o trabalho
proposto por Jesus não dará nenhum resultado e na maioria das vezes em que o
nosso coração nos pede mais ousadia na missão, acabamos preferindo as águas
sempre rasas da nossa comunidade, grupo, pastoral, movimento ou associação onde
é sempre muito fácil falar de Jesus e do seu evangelho, pois todos gostam,
aceitam e até aplaudem!
As pessoas vêm até nós e
assim passamos o nosso tempo “pescando” no aquário, onde até causamos espanto e
admiração, não pelo resultado do trabalho, mas apenas pela nossa performance e
desempenho.
Não foi para isso que
Jesus chamou os discípulos e nem é para isso que o Senhor nos chamou. Ser
missionário é sair do nosso “mundinho” conhecido e entrar na realidade
desconhecida das pessoas, lá onde elas estão e vivem, feiras livres, shopings,
grandes avenidas, condomínios residenciais de alto luxo, favelas e áreas
verdes, onde o medo do narcotráfico mata qualquer esperança. Em nossos
hospitais, presídios, asilos etc. E se acharmos que a tarefa é muito grande
para as nossas modestas possibilidades, então podemos começar pelas nossas
famílias e ambiente de trabalho.
O verdadeiro missionário
vai sempre além de suas expectativas, do seu conhecimento, da sua bagagem e
experiência, ele sabe que sempre há o risco de um fracasso, mas arrisca-se de
maneira corajosa porque é o Senhor quem determina. “em atenção á sua palavra,
vou lançar as redes”.
Quando assim
fazemos, acabamos nos surpreendendo com o resultado e rapidamente, como Pedro,
descobriremos que não foram nossas aptidões, mas sim a graça de Deus que
realizou a missão, dando os frutos em quantidade muito maior do que
esperávamos.
E ao tomarmos
conhecimento de que a graça de Deus, derramada por Jesus Cristo, move-se e age
mesmo em cima de nossas fraquezas e erros, somos tomados pelo medo de nos
entregarmos totalmente a Deus.
Então aí só nos resta um
caminho: confiar em Jesus e vivermos somente á luz da fé, na certeza de que
doravante faremos não do nosso modo, mas do modo dele, mesmo que isso
signifique ir contra a nossa lógica e razão.
Essa atitude requer uma
ruptura até mesmo com aquilo que nos pareça ser essencial, os primeiros
discípulos abandonaram na praia as redes e o barco e seguiram a Jesus, pois é
impossível edificarmos o reino de Deus do nosso modo.
Pensemos em nossa vocação e nos perguntemos em que águas andamos
“pescando”. A resposta irá exigir de nós uma atitude, a partir do evangelho.
Pe. Rosevaldo bahls.
Cascavel, 07 de 02 de 2013.
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