Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura...
1ª Leitura Jeremias 1, 4-5 . 17-19
Salmo 70 (71) “Minha boca proclamará vossa justiça”
2ª Leitura 1Cor 12,31-13,13
Evangelho Lucas 4, 21-30
Alguém já falou em brincadeira, que ser profeta é
“Ser do Contra”. O profetismo no contexto bíblico não se pode confundir com
extremismo radical, nem com alguma ideologia de ordem social ou política, pois
a pessoa do profeta não está comprometida com nenhuma instituição humana, nem
mesmo a religiosa, pois os laços de uma Fé encarnada na história, o prendem ao
Deus vivo que vai se revelando na Verdade.
O Sacramento do santo Batismo nos reveste da missão
profética ao fazer-nos membros de uma Igreja comprometida com o anúncio daquilo
que é verdadeiro: o evangelho de Cristo na sua essência, sem adaptações ou
fundamentalismo. O profeta não fala em nome próprio porque não é o dono da
palavra, mas apenas servo.
A iniciativa é sempre de Deus, pois como Jeremias,
somos conhecidos, consagrados e escolhidos ainda no ventre materno e temos na
graça de Deus toda a força e a coragem para cumprir sem medo a missão. O
profeta é do contra sim, quando as idéias e as atitudes não conferem com a
vontade de Deus porque ferem a vida, liberdade e a dignidade do homem. Trata-se
de um anúncio e uma denúncia, não feita com radicalismo, amargor, mas com firmeza.
Jesus é por excelência o Profeta do Pai, não só fala
em nome de Deus, mas ele é o próprio Deus. A sabedoria do seu ensinamento causa
admiração e encanta as multidões por onde passa, inclusive à sua comunidade em
Nazaré, onde ele se revela como ungido de Deus, revestido de uma missão. Mas os
seus conterrâneos, em vez de se encherem de alegria ao perceberem em Jesus a
presença de Deus, ao contrário, começam a levantar suspeita e desconfiança
sobre a sua pessoa, pois fechados em seus estreitos horizontes, achavam
impossível Deus Altíssimo agir em Jesus de Nazaré, filho de Maria e José,
carpinteiro de profissão, pessoa simples ali da terra.
Hoje em dia também é difícil uma pessoa simples de
origem humilde mostrar o seu valor, pois em uma sociedade tão competitiva, ás
vezes somente os letrados e diplomados conseguem ter suas idéias aceitas. Em
nossas comunidades cristãs muitas vezes e infelizmente cometemos esse mesmo
pecado quando valorizamos mais o ministro do que a própria Palavra. O
ministério ordenado, bem como todos os outros ministérios da nossa igreja,
antes de tudo estão a serviço do povo de Deus, mas às vezes a própria
comunidade se prende excessivamente ao formalismo e à instituição dando crédito
apenas à palavra de alguém revestido de autoridade. Quantas pessoas que
voltaram para suas casas da porta da igreja, ao tomarem conhecimento de que a
celebração seria presidida por um ministro leigo...
Foi mais ou menos isso que aconteceu com Jesus na
sinagoga de Nazaré, ele falava com grande sabedoria, porém era um leigo, não
pertencia a elite dos escribas ou a classe sacerdotal, ou ao seleto grupo dos
Doutores da Lei. Apegados ás tradições e ao formalismo religioso, os
conterrâneos de Jesus não conseguem vislumbrar nele algo de novo e o rejeitam
simplesmente porque ele não se enquadra nos padrões religiosos pré determinados
e nem realiza sinais prodigiosos.
A Salvação trazida pela graça de Deus, só produz o
seu efeito quando encontra receptividade e abertura no coração do homem
independente da sua raça, ideologia, condição social ou até mesmo credo
religioso. Pois ao tomarem conhecimento desta verdade através de Jesus, que
citou o exemplo da viúva de Sarepta, e de Naamã, o sírio, beneficiados pela
ação profética de Elias e Eliseu, respectivamente, os conterrâneos de Jesus,
tomados pela fúria, o expulsaram da comunidade e tentaram matá-lo. Somente uma
fé madura e um coração totalmente aberto à graça de Deus, poderá nos levar à
compreensão de que a Salvação que Jesus oferece é para todos os homens.
Pensar diferente disso é
menosprezar a caridade, a maior de todas as virtudes, é querer caminhar
sozinho, adentrando no atalho da mediocridade e da hipocrisia
Pe. Rosevaldo Bahls.
Cascavel, 31 de 01 de
2013.
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