“Para os que Creem no Cristo a vida não é tirada, mas transformada e
desfeita essa nossa habitação terrena, nos é dada no céu uma eterna mansão”.
Esta é a nossa fé, esta é a fé da Igreja e esta é a razão pela qual
rezamos por nossos queridos que já partiram e rezamos em comunhão como nossos
falecidos.
As leituras que nos propusemos comentar para a liturgia de hoje nos
ajudam a entender esta crença de que a vida não termina aqui e que tudo o
que o ser humano vivencia na sua existência terrena é uma preparação para a
vida definitiva, para a eterna mansão.
Assim o livro da Sabedoria, como não poderia deixar de ser, usa sábias
palavras de conforto: “A vida dos justos está nas mãos de Deus, aos olhos
humanos parecem estar mortos, mas os que confiam no Senhor conhecerão a
verdade”. Estas palavras apontam para a beleza da confiança naquele que fez o
céu e fez a terra, depois de uma passagem na condição de imagem do criador as
suas criaturas experimentarão a proximidade com o Pai e Senhor da vida.
Já no livro de Jó, o personagem não se deixa abalar pelos sofrimentos,
provações e fragilidades desta vida. Sua confiança é para muito mais do que os
dias na face da terra. “Queria que estas minhas palavras fossem escritas
na pedra: Eu creio que o meu redentor vive e que eu o verei face a face”.
Em outras palavras “A vida pra quem acredita não é passageira ilusão e a morte
se torna bendita porque é nossa libertação”.
Aos Romanos São Paulo afirma: “De fato quando não tínhamos esperança
Cristo morreu por nós”. A alusão que o apostolo faz aos povos que não
conheceram o Messias serve também de conforto para a comunidade de Roma
convidando-a para a alegria em Cristo Jesus e na sua obra.
O autor do Apocalipse reforça a maior e mais clara necessidade humana,
isto é, cultivar a virtude da Esperança. “Eis que Eu vou fazer um novo
céu e uma nova terra. As coisas antigas já se passaram”. É Deus mesmo
quem se propõe e garante que toda a experiência vivida até aqui é quase nada se
comparada com a glória de tudo o que virá. Ele mesmo fará novas todas as
coisas.
E o autor do evangelho de João confirma a missão de Jesus: “Eu vim para
fazer a vontade do meu Pai. E a vontade é esta: que não se perca nenhum
daqueles que ele me deu”. Por sua vez do ser humano é pedido apenas uma atitude:
“crer no Filho do Homem”. Para estes está garantida a vida eterna, ou
seja, lhes será dada um condição que não termina com o que chamamos de morte,
pelo contrário, esta se confirma como a passagem para a vida definitiva.
Em Lucas, prometendo o paraíso ao ladrão arrependido, Jesus mostra como
está disposto a agir em relação a todos os que nele acreditam.
Compreender e atualizar estas palavras da sagrada escritura não é
nenhuma pretensão de esconder a realidade da morte, muito pelo contrário, ela é
real, traiçoeira e dolorida. Aos cristãos não cabe encarar a morte como um
fazer de conta. Viver na condição de quem caminha para a morte implica
aceitar a finitude e a fragilidade de todos os projetos e todas as aspirações.
Mas esta é a condição e a certeza que somos plenamente humanos e, portanto,
vivemos aqui como imagem e semelhança de Deus. Crer e preparar a vida
definitiva não é o mesmo que simplificar ou menos prezar o fenômeno da
morte, nela nós encontramos Deus e então sim todos os limites, barreiras e
fragilidades deixarão de existir. Daí advém nossa crença na comunhão dos santos
e a importância de rezar por nossos falecidos.
Vida e morte se
constituem então em mistério extraordinário e só encontram perfeito sentido em
Deus e na sua Palavra.
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