MUITOS RICOS DEPOSITAVAM MUITO
1ª leitura 1rs 17,10-16.
2ª leitura Hb 9,24-28
Mc 12,38-44
Esta viúva pobre deu mais
do que todos os outros.
O Evangelho de hoje tem
duas partes. Na primeira, Jesus nos alerta sobre o perigo da hipocrisia, que
consiste em darmos uma aparência de bons e santos, sendo que na verdade não
somos. Esse pecado está em quase todos nós. Escondemos os nossos defeitos e
publicamos as nossas virtudes.
É conhecida a expressão
“santo de pau oco”. Eram imagens ocas que os portugueses enchiam de ouro do
Brasil para levar clandestinamente para Portugal. Imagine as cenas no navio: a
pessoa com muita “devoção” ao santo, mas na verdade o culto era ao ouro que
estava lá dentro.
Todos nós somos um pouco
“santos de pau oco”. Mas de Deus ninguém esconde nada!
Na segunda parte do
Evangelho, vemos a cena da viúva colocando no cofre do Templo duas moedinhas
que não valiam quase nada e Jesus elogiando o gesto dela.
Jesus fala: “Esta viúva
pobre deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. Todos deram do
que tinham de sobra, enquanto ela, na sua
pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver”.
Aquela viúva mostrou uma
fé que não é qualquer um que tem: Dar para Deus ou para o próximo aquilo que
necessita para viver. Só faz isso quem tem muita fé e confiança em Deus.
Ela nos lembra o gesto de
Jesus, que não tinha onde reclinar a cabeça, no entanto, passou a vida fazendo
o bem e servindo a todos e todas. Até que, no fim, deu-se a si mesmo. Quando
celebramos a Eucaristia, comemos a carne e bebemos o sangue de Jesus. Que este
alimento, que comemos todos os domingos, nos
ajude a ser como a viúva,
como Jesus, cada um de nós traduzindo o gesto para o nosso jeito original.
Quem ama a Deus, confia
nele, e não mede os sacrifícios que faz por ele. Aliás, nem vê seus gestos como
sacrifício. A viúva amava muito a Deus, por isso confiava nele e sabia que não
ia passar fome sem aquelas moedas.
As outras pessoas “deram
do que tinham de sobra”. Sinal que colocavam a própria segurança, não em Deus,
mas no dinheiro. Por isso que os ricos são ricos, e por isso que existe fome no
mundo. As pessoas buscam avidamente acumular bens. É uma avidez que só aumenta.
Quanto mais tem mais quer.
Vemos que a mensagem que
Jesus nos dá neste Evangelho vai muito além de oferta em dinheiro. Isto foi
apenas uma ocasião. Podemos nos perguntar: a viúva foi imprudente? É certo
alguém fazer isso que ela fez, dar a Deus tudo o que possui para viver? É certo
ajudarmos um necessitado, usando para isso um tempo não livre, ou um bem do
qual vamos precisar? A cena da viúva de Sarepta (1ª Leitura) é uma resposta de
Deus a essas perguntas.
Também parábola do bom
samaritano (Lc 10,25-37) vai na mesma linha. O samaritano não calculou nada,
quando desceu do cavalo e socorreu o ferido que viu na beira da estrada.
Todo gesto de amor
verdadeiro inclui a doação da nossa vida; do contrário é egoísmo disfarçado em
amor. Até um simples dar uma moeda ao mendigo que nos pede, só será amor verdadeiro
se estiver embutida no gesto uma entrega total nossa a Deus, presente naquele
mendigo.
“Ninguém tem maior amor
do que aquele que dá a vida por quem ama” (Jo 15,13). E Jesus,
que falou essa frase, nos deixou o exemplo com a sua própria vida.
“Buscai em primeiro lugar
o Reino de Deus, e tudo o mais vos será dado por acréscimo.” Aí está o caminho
da felicidade, da realização pessoal e do sentido da vida que todos nós
buscamos.
Aquela viúva certamente
tinha alegria e descontração, ao passo que aqueles outros estavam tensos e
preocupados. É o que acontece quando seguimos e quando não seguimos o plano de
Deus.
Havia, certa vez, um
camelô que armava sua barraca na velha praça, e vendia bugigangas. Ele não
fazia propaganda de seu negócio e até parecia que não “regulava bem”. Algumas
pessoas o
pagavam com moedas falsas
e outras, simplesmente, não pagavam, garantindo que já o tinham feito. Ele
aceitava suas palavras. A todos acolhia com a mesma bondade e o mesmo sorriso.
Ao aproximar-se a hora da
morte, ele pediu a Deus: “Ao longo da vida aceitei muitas moedas falsas das
pessoas, mas nem uma só eu as julguei em meu coração. Simplesmente supus que
não sabiam o que faziam. Por favor, ó Deus, agora é a minha vez de ser julgado.
Também sou moeda falsa e espero ser julgado com misericórdia...”
No acerto final, ele
ouviu do Juiz: “Como é possível julgar alguém que nunca julgou os outros?” E no
dia seguinte, ele brilhava como um diamante em meio aos bem-aventurados. Agora
é moeda verdadeira, cunhada pelo próprio Deus.
Pobreza e misericórdia
precisam, necessariamente, andar juntas. Todos somos pecadores e, por isso,
logicamente, precisamos da misericórdia do Pai. Ele é infinitamente
misericordioso. Mais ainda, ele possibilita que nós mesmos escolhamos a maneira
de julgamento: “Com a mesma medida que julgardes, sereis julgados”. Não é
suficiente julgar com misericórdia, Jesus vai além: “Não julgueis”.
Que não sejamos
hipócritas, isto é, moedas falsas, apresentando-nos como verdadeiras..
Maria Santíssima, quando
foi ajudar a prima Isabel, que estava grávida, ficou lá três meses. Se ela
fosse calculista, certamente teria voltado antes para casa, ou nem teria ido,
já que ela também estava grávida, e do próprio Messias. Se ela fosse calculista, também não estaria ao pé
da cruz, junto do Filho, devido ao perigo que isso representava para ela. Mãe
do belo amor, rogai por nós. Que dirijamos os nossos atos pelo amor, que nos
leva, às vezes, ao heroísmo.
Esta viúva pobre deu mais do que todos os outros.
Pe. Rosevaldo Bahls
Cascavel, 07 de 11 de 2012.
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