A VERDADEIRA RELIGIÃO
O povo de Deus exilado na Babilônia ouvia com frequência a
pergunta irônica “onde está o Deus de vocês?” (Sl 115,2). A partir daí cresce a
consequência de que Deus se revela e se mostra próximo mediante uma legislação
justa. Praticando-a, o povo se torna grande nação, com leis sábias e inteligentes
(1ª leitura Dt 4,1-2.6-8).
No Evangelho: Jesus é o que anula as tradições humanas que destroem
a vontade divina. Anulando os preceitos humanos, aponta para um tipo de moralidade
na qual a impureza que afasta de Deus não depende de condições externas, mas
das opções de vida das pessoas. Relacionar-se com Deus não é fazer uma série de
ritos de purificação, e sim fazer opção profunda pelo seu projeto (Mc 7,
1-8.14-15.21-23).
II leitura:As comunidades cristãs no final do 1º século
sentiam a tentação de fazer da religião um relacionamento com Deus separado dos
compromissos de solidariedade e justiça. A carta de Tiago vem iluminar essa
questão (II leitura Tg 1, 17-18.21b-22.27).
Esses vícios velados tornam-se evidentes no dia-dia das
pessoas pelo fato de orientarem a atividade do ser humano: das intenções
veladas passa-se à concretização: roubos, assassínios, adultérios, fraudes,
injustiças, perseguição e inclusão etc. Jesus garante que a impureza não é
fornecida pela natureza; ao contrário, é questão de opção. Daí decorre a
seguinte pergunta: Como seriam as relações sociais se as pessoas optassem pela
justiça, pelo dom de partilhar? Continuariam exigindo privilégios e
marginalizando tonando-se opressores e oprimidos? Porque as pessoas opressoras
sentem-se como insatisfeitas e correm em busca até mesmo do que não lhe
pertence....
A carta de Tiago se opõe a um tipo de religião que foge dos
compromissos existenciais para se refugiar no ritualismo, justificando as
injustiças ou fechando os olhos diante delas. Os poucos versículos pinçados do
(Tg 1 ) comprovam isso. Em primeiro lugar, o texto demonstra que todos os dons
vêm de Deus. Entre esses dons está a vocação cristã. Ora, em Deus não há
variação nem sombra de mudança (Tg 1, 17). Por isso, pertencer a Deus enquanto
criatura e, mais ainda, com o cristão, comporta coerência e continuidade com o
projeto divino pelo Espírito (Mt 7, 11).
O anúncio do Evangelho – Palavra da verdade – que provocou
mudanças na vida cristã a ponto de as pessoas terem abraçado o Batismo, faz com
que as cristãos sejam os primeiros frutos da nova sociedade que nasce da
prática de Jesus e do compromisso dos que aderem a Ele (Tg 1,18).
- Em base a isso, Tiago convida a acolher a Palavra e a pôr
bem prática o que ela determina (Tg 1, 21b-22)
para merecer o nome de cristão, isso está em estreita relação com as exigências
que Jesus fez a seus discípulos ( Mt 7, 24-26).
No tempo em que essa carta de São Tiago foi escrita, as
comunidades cristãs arriscavam fechar-se em si mesma, sem compromisso com a
trans formação da sociedade. Tiago insiste que “a religião pura e sem mancha
diante de Deus Pai é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e
guardar-se livre da corrupção do mundo (Tg 1,27)”. Em síntese, religião é
solidariedade com os marginalizados (órfãos, e viúvas) e ruptura com as
estruturas de pecado que geram marginalização (guardar-se da corrupção do
mundo). Mas uma vez, Deus nada pede para si. O autêntico relacionamento com Deus
passa pelo caminho necessário da fraternidade e da justiça.
Pe. Rosevaldo Bahls
Cascavel, 28 de 08 de 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário