DEPOIS DA SUA PAIXÃO, JESUS
MOSTROU-SE VIVO A ELES.
Lucas divide a
história em três tempos. O tempo da promessa, que é o Primeiro Testamento que
vai até João Batista. O tempo da realização das promessas em Jesus (evangelho);
e o tempo da realização das promessas em prolongamento da atividade salvadora
de Jesus (atos dos Apóstolos). O Espírito Santo é o animador desses tempos, é o
fundamento da missão de Jesus e dos seus seguidores. Vamos salientar alguns
pontos no texto de hoje.
Neste início do seu
segundo livro S. Lucas faz alusão à obra de Jesus narrada no seu primeiro livro
que é o evangelho, e acena às diversas aparições de Jesus falando do Reino de
Deus durante 40 dias. Este número simbólico quer mostrar a plenitude do
ensinamento de Jesus para os apóstolos.
Jesus dá uma ordem
aos apóstolos para não se afastarem de Jerusalém em vista da realização da
promessa da vinda do Espírito Santo.
Os apóstolos
perguntam se é agora que Israel vai assumir as rédeas do poder do Reino de
Deus. Jesus responde dizendo, que a data não cabe a eles saberem, mas é segredo
do Pai. A eles cabe a missão de com a força do Espírito Santo serem suas
testemunhas em Jerusalém, na Judéia e Samaria e até os confins da terra, ou
seja, Roma, capital do Império. Este (cf
at 1, 8), apresenta exatamente o
programa geográfico da atividade apostólica que Lucas vai narrar nos Atos dos
Apóstolos. Este livro termina mostrando Paulo evangelizando em Roma.
A narração da
Ascensão em forma de arrebatamento como se Jesus estivesse subindo ao céu
fisicamente foi inspirada no arrebatamento de Elias. É uma forma visível e
plástica de descrever uma verdade de fé várias vezes expressa de outra forma em
outros textos do Primeiro Testamento, ou seja, que Jesus foi glorificado e
entronizado junto do Pai (cf. Fl 2,9-11;
Ef 1,17-23 - 2a leitura de hoje, etc.).
O interesse maior
de Lucas recai sobre as consequências da glorificação de Jesus para os seus
discípulos. Quer dizer eles não devem ficar agora olhando para cima esperando
Jesus voltar, mas devem sim aguardar pela presença do seu Espírito que animará
a missão da Igreja. Como Jesus foi subindo devagarzinho entre as nuvens,
símbolo da presença de Deus, ele vai reaparecendo devagarzinho a partir da
evangelização e vivência cristã no coração da comunidade - corpo de Cristo (Ef 1,23) até à manifestação total e
final dessa sua presença (parusia ou vinda). Aí Cristo será tudo em todos (Cl 3,11).Talvez pudéssemos sintetizar o
texto de hoje com a palavra poder de Deus em nosso favor e em favor de Cristo.
A primeira parte (Ef 1,17-23ª) é uma espécie de oração de súplica a Deus em
favor dos fiéis. Pede para eles um
espírito de sabedoria e revelação para conhecerem a Deus profundamente
numa iluminação,
para compreenderem o alcance da esperança cristã, a riqueza e a glória da
herança reservada aos santos, e a grandeza do poder de Deus em favor dos que
têm fé. Uma consciência mais profunda dessas realidades desperta um entusiasmo
mais ardoroso pela evangelização e vida cristã, para que um dia Cristo seja
manifestamente “tudo em todos” (Cl 3,11).
A segunda parte (Ef 1,17-23ª) mostra como Deus usou este seu poder em favor
de Jesus Cristo. É um outro modo de falar da glorificação e entronização de
Jesus, mas não em forma de subida ou ascensão visual como nos Atos dos
Apóstolos. Aqui o autor mostra a nossa realidade e a identidade de Jesus, hoje,
depois de sua paixão e morte. Deus o ressuscitou e o entronizou como Senhor
absoluto do universo inteiro, universo visível e invisível. Deus no seu imenso
poder “colocou tudo debaixo dos pés de Jesus Cristo”. Cristo “é a cabeça de
todas as coisas da Igreja”. “A Igreja é o corpo de Cristo que preenche tudo em
todo o universo. Enaltecendo Jesus a Igreja é também enaltecida, pois a Igreja
é o corpo, cuja cabeça é Cristo. Mas há uma diferença importante para
combatermos o nosso triunfalismo e desenvolvermos a virtude da humildade.
Enquanto Cristo-cabeça é totalmente santo, a Igreja corpo é também pecadora.
Daí o sentido geral da liturgia de hoje: O apelo missionário, para que um dia
Cristo possa ser de tal forma vivido pelos fiéis que sua parusia-vinda-presença
seja claramente visível por todos
O evangelho de
Marcos (Mc 16,15-20) terminava em (Mc 16,8). Os versículos finais (Mc 16,9-16), dos quais faz parte o
nosso texto, foram acrescentados posteriormente, mas fazem parte do evangelho
como qualquer outro trecho, só que não foi São Marcos quem escreveu. É uma
síntese das narrações sobre as aparições de Jesus tiradas dos outros evangelhos
como alusões a fatores narrados nos Atos dos Apóstolos. Os versículos (Mc 16 ,9-14) narram 03 aparições. Os
versículos de hoje (Mc16,15-20) se aproximam de (Mt 28,16-20), ou seja, apresentam o discurso missionário com o
acento sobre a universalidade da missão aos pagãos.
O evangelho deve
ser anunciado a toda criatura, ou seja, ao mundo inteiro. Depois de ouvirem a
Boa Nova da Salvação, uma proposta de vida nova, as pessoas podem aceitar ou
não, crer ou não crer. Os que aceitarem a proposta devem ser encaminhados ao
batismo, pois a fé deve ser acompanhada do compromisso público com a comunidade
através do batismo. Quem não aceitar a proposta de vida está assinando sua
própria condenação, está assumindo sua situação de morte.
Os (Mc 16, 17-18) falam dos
sinais que acompanharão os que crerem, mas não devem ser tomados ao pé da
letra. Quando o evangelho foi escrito tudo aquilo já tinha acontecido e sido
experimentado pelos primeiros missionários. Eles querem exemplificar o que está
escrito no (Mc 16, 20), ou seja, a
presença e ajuda do Senhor Jesus. Eles são condicionados pela mentalidade
daquela época. Hoje podemos entendê-los de forma simbólica: “expulsar os
demônios” simboliza a vitória sobre os ídolos modernos alienantes e escravizastes.
Poderíamos até nomear alguns “demônios”: o ídolo do ter (demônio da ganância ou
cobiça, que é idolatria; os ídolos do prazer e do poder; o demônio do orgulho,
da vaidade, da violência, da prepotência, etc.; “falar novas línguas” é o
contato com novos povos e culturas, fruto das caminhadas missionárias; “pegar
em serpente, beber veneno mortal e curar doentes” vão na linha da vitória sobre
o mal que atormenta o povo. Tudo isso expressa a vitória do Ressuscitado. O (Mc 16, 19) salienta a glorificação de
Jesus ressuscitado através da linguagem de ascensão física de Jesus
ressuscitado e sua entronização à direita do Pai. Este modo de falar da
glorificação de Jesus era bem aceito no mundo antigo. Ela frisava duas coisas
importantes: A primeira é a ausência física de Jesus; a Igreja agora é o sinal
da presença de Jesus no mundo. A segunda coisa é a presença constante e
misteriosa de Jesus junto à sua Igreja missionária, dando incentivo, ajuda e
provando, por meio de sinais, a veracidade de seu ensinamento (Mc 16, 20).
Pe. Rosevaldo Bahls
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