segunda-feira, 21 de maio de 2012

FESTA DA ASCENSÃO DO SENHOR DO ANO B DIA 20 DE 05 DE 2012





       DEPOIS DA SUA PAIXÃO, JESUS MOSTROU-SE VIVO A ELES.
Lucas divide a história em três tempos. O tempo da promessa, que é o Primeiro Testamento que vai até João Batista. O tempo da realização das promessas em Jesus (evangelho); e o tempo da realização das promessas em prolongamento da atividade salvadora de Jesus (atos dos Apóstolos). O Espírito Santo é o animador desses tempos, é o fundamento da missão de Jesus e dos seus seguidores. Vamos salientar alguns pontos no texto de hoje.
Neste início do seu segundo livro S. Lucas faz alusão à obra de Jesus narrada no seu primeiro livro que é o evangelho, e acena às diversas aparições de Jesus falando do Reino de Deus durante 40 dias. Este número simbólico quer mostrar a plenitude do ensinamento de Jesus para os apóstolos.
Jesus dá uma ordem aos apóstolos para não se afastarem de Jerusalém em vista da realização da promessa da vinda do Espírito Santo.
Os apóstolos perguntam se é agora que Israel vai assumir as rédeas do poder do Reino de Deus. Jesus responde dizendo, que a data não cabe a eles saberem, mas é segredo do Pai. A eles cabe a missão de com a força do Espírito Santo serem suas testemunhas em Jerusalém, na Judéia e Samaria e até os confins da terra, ou seja, Roma, capital do Império. Este (cf at 1, 8),  apresenta exatamente o programa geográfico da atividade apostólica que Lucas vai narrar nos Atos dos Apóstolos. Este livro termina mostrando Paulo evangelizando em Roma.
A narração da Ascensão em forma de arrebatamento como se Jesus estivesse subindo ao céu fisicamente foi inspirada no arrebatamento de Elias. É uma forma visível e plástica de descrever uma verdade de fé várias vezes expressa de outra forma em outros textos do Primeiro Testamento, ou seja, que Jesus foi glorificado e entronizado junto do Pai (cf. Fl 2,9-11; Ef 1,17-23 - 2a leitura de hoje, etc.).
O interesse maior de Lucas recai sobre as consequências da glorificação de Jesus para os seus discípulos. Quer dizer eles não devem ficar agora olhando para cima esperando Jesus voltar, mas devem sim aguardar pela presença do seu Espírito que animará a missão da Igreja. Como Jesus foi subindo devagarzinho  entre as nuvens, símbolo da presença de Deus, ele vai reaparecendo devagarzinho a partir da evangelização e vivência cristã no coração da comunidade - corpo de Cristo (Ef 1,23) até à manifestação total e final dessa sua presença (parusia ou vinda). Aí Cristo será tudo em todos (Cl 3,11).Talvez pudéssemos sintetizar o texto de hoje com a palavra poder de Deus em nosso favor e em favor de Cristo.
A primeira parte (Ef 1,17-23ª)  é uma espécie de oração de súplica a Deus em favor dos fiéis. Pede para eles um espírito de sabedoria e revelação para conhecerem a Deus profundamente numa iluminação, para compreenderem o alcance da esperança cristã, a riqueza e a glória da herança reservada aos santos, e a grandeza do poder de Deus em favor dos que têm fé. Uma consciência mais profunda dessas realidades desperta um entusiasmo mais ardoroso pela evangelização e vida cristã, para que um dia Cristo seja manifestamente “tudo em todos” (Cl 3,11).
A segunda parte (Ef 1,17-23ª)  mostra como Deus usou este seu poder em favor de Jesus Cristo. É um outro modo de falar da glorificação e entronização de Jesus, mas não em forma de subida ou ascensão visual como nos Atos dos Apóstolos. Aqui o autor mostra a nossa realidade e a identidade de Jesus, hoje, depois de sua paixão e morte. Deus o ressuscitou e o entronizou como Senhor absoluto do universo inteiro, universo visível e invisível. Deus no seu imenso poder “colocou tudo debaixo dos pés de Jesus Cristo”. Cristo “é a cabeça de todas as coisas da Igreja”. “A Igreja é o corpo de Cristo que preenche tudo em todo o universo. Enaltecendo Jesus a Igreja é também enaltecida, pois a Igreja é o corpo, cuja cabeça é Cristo. Mas há uma diferença importante para combatermos o nosso triunfalismo e desenvolvermos a virtude da humildade. Enquanto Cristo-cabeça é totalmente santo, a Igreja corpo é também pecadora. Daí o sentido geral da liturgia de hoje: O apelo missionário, para que um dia Cristo possa ser de tal forma vivido pelos fiéis que sua parusia-vinda-presença seja claramente visível por todos
O evangelho de Marcos (Mc 16,15-20) terminava em (Mc 16,8). Os versículos finais (Mc 16,9-16), dos quais faz parte o nosso texto, foram acrescentados posteriormente, mas fazem parte do evangelho como qualquer outro trecho, só que não foi São Marcos quem escreveu. É uma síntese das narrações sobre as aparições de Jesus tiradas dos outros evangelhos como alusões a fatores narrados nos Atos dos Apóstolos. Os versículos (Mc 16 ,9-14) narram 03 aparições. Os versículos de hoje (Mc16,15-20) se aproximam de (Mt 28,16-20), ou seja, apresentam o discurso missionário com o acento sobre a universalidade da missão aos pagãos.
O evangelho deve ser anunciado a toda criatura, ou seja, ao mundo inteiro. Depois de ouvirem a Boa Nova da Salvação, uma proposta de vida nova, as pessoas podem aceitar ou não, crer ou não crer. Os que aceitarem a proposta devem ser encaminhados ao batismo, pois a fé deve ser acompanhada do compromisso público com a comunidade através do batismo. Quem não aceitar a proposta de vida está assinando sua própria condenação, está assumindo sua situação de morte.
Os (Mc 16, 17-18) falam dos sinais que acompanharão os que crerem, mas não devem ser tomados ao pé da letra. Quando o evangelho foi escrito tudo aquilo já tinha acontecido e sido experimentado pelos primeiros missionários. Eles querem exemplificar o que está escrito no (Mc 16, 20), ou seja, a presença e ajuda do Senhor Jesus. Eles são condicionados pela mentalidade daquela época. Hoje podemos entendê-los de forma simbólica: “expulsar os demônios” simboliza a vitória sobre os ídolos modernos alienantes e escravizastes. Poderíamos até nomear alguns “demônios”: o ídolo do ter (demônio da ganância ou cobiça, que é idolatria; os ídolos do prazer e do poder; o demônio do orgulho, da vaidade, da violência, da prepotência, etc.; “falar novas línguas” é o contato com novos povos e culturas, fruto das caminhadas missionárias; “pegar em serpente, beber veneno mortal e curar doentes” vão na linha da vitória sobre o mal que atormenta o povo. Tudo isso expressa a vitória do Ressuscitado. O (Mc 16, 19) salienta a glorificação de Jesus ressuscitado através da linguagem de ascensão física de Jesus ressuscitado e sua entronização à direita do Pai. Este modo de falar da glorificação de Jesus era bem aceito no mundo antigo. Ela frisava duas coisas importantes: A primeira é a ausência física de Jesus; a Igreja agora é o sinal da presença de Jesus no mundo. A segunda coisa é a presença constante e misteriosa de Jesus junto à sua Igreja missionária, dando incentivo, ajuda e provando, por meio de sinais, a veracidade de seu ensinamento (Mc 16, 20).
Pe. Rosevaldo Bahls

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