quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

NATAL DO SENHOR 25 DE 12 DE 2011 DO ANO B

(Is 9,1-6) Nascimento de um príncipe, luz para o povo nas trevas

No tempo de Isaías, em 732 a.C., a população da Galileia (Zabulon e Neftali) tinha sido deportada para a Assíria, e sua terra é como as sombras da morte. Mas surge uma luz: o nascimento de um filho real. Ele recebe títulos de inimaginável grandeza, exprimindo a confiança colocada nele. A Galileia oprimida torna-se imagem de toda a humanidade, e aquele em quem ela coloca sua esperança deve ser o Salvador de todos. * 9,1-3 cf. Mt 4,13-16; Jo 8,12 ­* 9,5-6 cf. Is 7,14; Nm 24,7.17; Zc 9,9-10.
(Tt 2,11-14) Manifestou-se a graça de Deus – Entre a primeira manifestação da graça de Deus em Jesus e a segunda (no fim do tempo), situam-se o tempo da Igreja e a nossa História. Através de nós, o mundo experimentará algo do carinho de Deus. * 2,11-13 cf. Tt 3,4; 1Jo 2,16; 1Tm 1,11; 2Tm 1,10 * 2,14 cf. Sl 130[129],8; Ex 19,5; Ez 37,23; 1Pd 2,9; 3,13.
(Lc 2,1-14) Nascimento de Jesus e anúncio aos pastores – As esperanças messiânicas do A.T. oscilavam entre o surgimento de um novo rei davídico e um agir direto de Deus. No menino de Belém realizam-se ambas as expectativas: o Filho de Davi é Filho de Deus. Céu (anjos) e terra (pastores) o adoram. Ele é “o Senhor”, manifesta a glória de Deus e traz ao mundo a paz (cf. 1ª leitura) * cf. 1Sm 10,1; 16,1-13; Mq 5,1-4; Lc 19,38.
A tradição litúrgica criou três missas para a festa de Natal: a de meia-noite (missa do galo), a da aurora e a do dia. A missa da noite banha no mistério: a luz que brilha na noite; a vinda do rei de justiça que surge qual luz para o povo oprimido (1ª leitura); a mensagem do anjo aos mais humildes, os pastores na fria e longa noite do inverno (evangelho).
Nesta atmosfera de mistério, a liturgia desdobra o anúncio do Natal do Messias e salvador, Jesus, filho de Maria e de José e, sobretudo, filho de Deus. A 1ª leitura lembra o nascimento de um príncipe, no tempo de Isaías (700 a.C.), que significa esperança para o povo abalado pelas invasões assírias. O salmo responsorial comenta que tais fatos são a prova de que Deus governa o mundo com justiça e os povos segundo sua fidelidade. A 2ª leitura anuncia o tempo de Cristo como o tempo em que se manifesta a graça (amizade) de Deus, transformando a nossa noite em dia e luz.
O centro da celebração é o evangelho: o anúncio do nascimento do Salvador. Maria e José viajam a Belém, cidade de Davi, ancestral de José, para o recenseamento imposto pelo Império Romano. A criança nasce num abrigo fora do lugar de hospedagem, que já está cheio. A salvação nasce lá onde menos se espera. As primeiras testemunhas, escolhidas por Deus, são os pastores que vivem em meio aos animais, fora da “sociedade”. A eles se dirige a majestosa mensagem da paz messiânica proclamada pelos coros celestiais: “Glória a Deus nas alturas e na terra paz aos que são do agrado de Deus”.
De acordo com o evangelho de Lucas, a pobreza é o lugar da salvação. Deus se manifesta nas trevas da vida humana em seu Filho, que se assemelha aos mais abandonados. Pois Deus quer tornar-se próximo de todos, a começar pelos que menos contam. É isso que se chama graça (palavra chave da 2ª leitura), graça que se manifesta para todos (Tt 2,11). Essa graciosa aproximação de Deus realiza-se pelo que Jesus se assemelha aos que são chamados a serem sua própria gente (Tt 2,14). É o “divino comércio” desta noite, na qual o céu e a terra trocam seus dons, para que possamos participar da filiação divina daquele que assumiu nossa condição humana (oração sobre as oferendas; prefácio de Natal III). Para que esse intercâmbio fosse completo, Deus quis que seu filho assumisse não só a fina flor da sociedade humana, mas suas raízes mais humildes arraigadas na escuridão da terra.
Sete séculos antes de Cristo, o povo de Israel andava oprimido pelas ameaças dos assírios, que já tinham deportado parte da sua população. Em meio a essas trevas – anuncia o profeta – aparece uma luz: nasce um novo príncipe, portador das esperanças que seus títulos exprimem: “Conselheiro admirável, Deus forte” (1ª leitura). Em Jesus, o significado deste nascimento recebe sua plenitude. Ele nasce como luz para o povo oprimido. Seu nascimento no meio dos pobres é o sinal que Deus dá aos pastores (gente bem pobre), para mostrar que o Messias veio ao mundo (evangelho). No meio das trevas, eles se encontram envoltos em luz...
Celebramos “a aparição da graça de Deus” em Jesus (2ª leitura). A escolha dos pobres como primeiras testemunhas evidencia a gratuidade: nada de aparato oficial. Nós podemos corresponder a esta graça por uma vida digna e pela viva esperança – que se verifica em nossa prática – da plena manifestação da luz gloriosa de Cristo, quando de sua nova vinda. Quem acolhe Jesus no meio dos pobres não precisa ter medo de sua glória...
Reunindo-se em torno do presépio, o povo exprime algo muito importante. Jesus nasceu num estábulo, no meio dos pobres, que foram os primeiros a adorá-lo, porque, para ser o Salvador de todos, tinha que começar pelos mais abandonados. Quem quer ser amigo de todos tem que começar pelos pequenos, pois, se começa com os grandes, nunca chega até os pequenos. A devoção popular do presépio merece valorização e aprofundamento, e não podemos permitir que ela degenere em algo puramente comercial. À luz do presépio, solidariedade com Cristo significa solidariedade com os pobres. Viver uma vida “digna” (de Cristo) não significa elitismo, mas solidariedade em que se manifestam a graça e a bondade de Deus para todos.

Pe. Rosevaldo Bahls
Cascavel, 21 de 12 de 2011.

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