sexta-feira, 14 de outubro de 2011

XXIX Domingo do Tempo Comum - Ano A



O QUE É DE CÉSAR E O QUE É DE DEUS
· A Palestina do tempo de Jesus estava sob o domínio do Império Romano. E a moeda que circulava era a moeda romana, na qual havia a imagem do Imperador, onde ele era qualificado não só como "Augusto" e "Pontífice Máximo", mas também como "deus": "Divus". lsso era intolerável para os judeus de consciência reta. Como era de modo em geral, revoltante, terem de pagar imposto ao Imperador, como se ele fosse o senhor do povo. Deus é que era o Senhor! Era isso que lançara em rosto aos judeus o líder revolucionário Judas, o Galileu, que tentara sublevar o povo contra os romanos nos primeiros anos da Era Cristã, como é lembrado por Gamaliel, num discurso no Sinédrio, citado nos Atos dos Apóstolos (At 5,37). Essa realidade política ensejou aos inimigos de Jesus armar-Ihe uma cilada bem maldosa. Organizaram um grupo composto de discípulos dos fariseus e de herodianos, e foram perguntar a Jesus: se era ou não lícito pagar tributo a César. O dilema parecia iniludível. Se Jesus respondesse que era lícito, estaria colocando-se ao lado dos publicanos - os arrecadadores de impostos - tão odiado pelo povo, e estaria, mais ainda, contrariando o sentido teocrático nacional de Israel; sem falar que se estaria colocando contra sua própria declaração que Ele era o Messias, o que excluía qualquer outra ingerência de um poder estrangeiro no seu reino. E respondesse que não era lícito, poderia ser acusado de estar preparando uma sedição contra o poder de Roma. Tema, aliás, que apareceu no seu processo. Mas a pretensão desses tentadores se esfacelou perante a sabedoria do Divino Mestre. Ele não se deixou amarrar por nenhum dos lados da questão polêmica, fundada em situações políticas, muito pequeninas diante da grandeza do Reino de Deus. Deu uma resposta que se pode dizer que vem do alto. Nem da direita, nem da esquerda. Pediu-Ihes que lhe mostrassem uma das moedas do imposto. E lhe apresentaram um denário. Justamente onde estava a efígie do Imperador com seus títu1os de honra. "De quem é esta imagem e esta inscrição que aqui está?" perguntou-lhes Jesus. E lhe responderam: "De César". "Pois então" - declarou Jesus -"dêem a César o que é de César; e dêem a Deus o que é de Deus" (Mt 22,19-21 ). Ninguém pode dizer nada contra a justeza dessa resposta. Querendo ou não querendo, essa era a situação de fato: os romanos dominavam o País. Sua moeda circulava aceita necessariamente. E não se podia deixar de pagar os impostos devidos. São Paulo irá lembrar os deveres dos cristãos perante os poderes públicos e irá dizer explicitamente: "Pague-se o imposto a quem se deve o imposto" (Rm 13,7). E vamos completar os comentários com três reflexões que nos parecem indispensáveis. A primeira é que não se pode aceitar a oposição entre "o que é de César" e "0 que é de Deus" no sentido em que a tomam alguns falsos intérpretes da Escritura que dizem que isso significa que a Igreja não pode interessar - se de assuntos políticos; que isso é problema dos profissionais da política; e que a Igreja - entendendo aqui sobretudo os Bispos e os Padres -só se pode ocupar de assuntos estritamente religiosos. Como se a fé não tivesse a função de iluminar com a verdade de Deus todas as realidades terrenas. Bastaria lembrar a Constituição "Gaudium et Spes" - sobre "A Igreja no mundo de hoje" - do Concílio Vaticano II. A mais vasta e a mais profunda lição de humanismo! A segunda reflexão é que, quando dizemos "dar a César o que é de César", nunca podemos deixar Deus de lado. Também nossos compromissos com o País, com a economia, com a política, com a cultura, com o trabalho e com o progresso devem sempre respeitar os mandamentos de Deus. Em tudo, absolutamente em tudo, Deus tem que estar presente. E a terceira reflexão - aliás muito mimosa - é a que fazem sábios comentadores a respeito da imagem de Deus que está em nós, muito mais do que estava a imagem do Imperador retratada nas moedas do Império. Deus nos criou "à sua imagem e semelhança". Trazemos a marca de Deus. A Ele devemos voltar. É um direito dele. É um dever nosso.




Pe. Rosevaldo Bahls
padrerosevaldo@terra.com.br

Um comentário:

  1. Ótima interpretação padre. Sou espírita e estava procurando imagem de moedas para uma palestra em que um dos tópicos é essa passagem de Mateus. Devemos ter na consciência que Deus está acima de todas as querelas humanas, e nos que quer amando e devotando nossa parte a Ele.

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