segunda-feira, 19 de setembro de 2011

XXVI Domingo do Tempo Comum - Ano A

25 de setembro de 2011


DOIS IRMÃOS DIFERENTES


Entre as riquezas mais notáveis da Igreja de nossos dias, e que é um dos frutos do Concílio Vaticano II, está a maior familiaridade dos fiéis com o livro da Palavra de Deus. A Bíblia é agora muito mais manuseada pelo povo. E, como a liturgia agora se celebra na língua vernácula, a leitura que se ouve na igreja desperta o desejo de completá-la e aprofundá-la numa leitura pessoal. E os círculos bíblicos, que agora se realizam com tanto empenho, vão ajudando os fiéis a conhecer sempre melhor a riqueza do que Deus nos transmite nas Sagradas Escrituras. Clero e fiéis não podem deixar de sentir com tudo isso uma viva e estimulante alegria. Inda mais que a reforma litúrgica trouxe também para a celebração da missa e do Ofício das Horas uma nova riqueza de textos bíblicos escolhidos com grande sabedoria no Antigo Testamento e no Novo. Hoje estamos lendo na primeira leitura da missa um trecho do profeta Ezequiel, em correlação com a perícope do evangelho de Mateus que é própria deste vigésimo sexto domingo do Tempo Comum. Ezequiel fala de um justo que se desvia do caminho da justiça que estava seguindo, e de um pecador que volta atrás do caminho errado que tinha tomado. Deus premiará o pecador que deixou o pecado, enquanto que castigará o justo que se desviou do bom caminho. Para o primeiro, a vida; para o segundo, a morte. Deus é sempre justo. Sinto-me tentado a dizer que as palavras de Ezequiel são como que um "eco prévio" do que vai aparecer no evangelho de Mateus. Aí se relata uma curiosa parábola de Jesus sobre o procedimento de dois irmãos. O pai, que era dono de uma vinha, chamou um deles e mandou que fosse trabalhar na vinha. O moço respondeu que ia, mais não foi. O pai chamou então o segundo e deu a mesma ordem: que fosse trabalhar na vinha. O moço respondeu "não quero"; mas logo se arrependeu, e foi trabalhar. Jesus fez então a pergunta aos seus ouvintes: "Qual dos dois fez a vontade do pai?" E a resposta unânime foi: "o último". E Jesus concluiu, tirando a grande lição que queria tirar: "Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes vos precederão no Reino de Deus. Porque veio a vós João, no caminho da justiça, e não crestes nele; ao passo que os publicanos e as meretrizes creram nele; vós, porém, nem mesmo diante de tais exemplos, vos arrependestes para nele crerdes" (Cfr Mt 21,28-32). O importante é fazer a vontade de Deus. Ele é que dá ao justo a força da graça para fazer o bem; e Ele é que dá ao pecador a penitência do coração para que deixe o pecado. Por isso, é possível que alguém caminhe por muito tempo no erro e no pecado, e um dia reencontre o caminho do bem. A alegria da conversão! Como disse o próprio Jesus, há mais alegria no Céu por um pecador que se converte do que por noventa e nove justos que perseveram no bom caminho. Por isso mesmo, que nunca nos venha o desânimo por termos caído nalgum pecado, ou em muitos pecados. A misericórdia de Deus aí está para nos receber de volta. Como também nunca nos vamos deixar adormecer na tranqüilidade de estarmos fazendo o bem, como se nos tivéssemos tornado impecáveis. Há sempre o perigo da tentação e da queda. Temos que nos manter vigilantes, para perseverarmos hoje, amanhã e sempre. "Aquele que perseverar até o fim, estará salvo", como está escrito no Evangelho (Mt 10,22; 24,13). O que Deus quer de nós é a nossa paz; e a nossa felicidade, então, consiste em fazer a vontade de Deus. Sempre! Dante, na Divina Comédia, tem um verso particularmente bonito. E o verso 85 do canto III do Paraíso. O Divino Poeta está perguntando a uma alma bem-aventurada se não lhe vem às vezes a vontade de pedir a Deus que lhe dê um lugar mais alto do que esse em que está no Céu. A resposta é que ali ninguém quer outra coisa, senão aquilo que a vontade de Deus lhe deu. Nessa vontade é que se encontra a sua paz: "Na vontade de Deus, a nossa paz", como poderíamos traduzir livremente o belo verso. Aliás esse verso foi o que teve mais votos numa pesquisa internacional que se fez sobre qual seria o verso mais belo de Dante. Nunca encontraríamos a paz fora da vontade de Deus. Essa vontade é cheia de luz e de amor. Nela encontraremos a luz, encontraremos o amor, encontraremos a paz.


Pe. Rosevaldo Bahls
Padrerosevaldo@terra.com.br

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