quarta-feira, 14 de setembro de 2011

XXIV Domingo do Tempo Comum - Ano A

11 de 09 de 2011


Na Liturgia da Palavra deste domingo, encontramo-nos de novo com São Pedro. Aliás, ele está muito presente no evangelho de Mateus. Hoje ele faz uma pergunta sobre o perdão: "Senhor, se meu irmão pecar contra mim, quantas vezes lhe devo perdoar? Até sete vezes (Mt 18,21)"? É uma pergunta que tem, até, cabimento. Se vou sempre perdoando, e a pessoa vai sempre pecando de novo, parece que ela não pretende corrigir - se. E uma reincidência teimosa, que acaba prejudicando a própria comunidade. Trata-se de alguém que não leva muito a sério seu próprio pedido de perdão. Porém Jesus não está ponderando essa fraqueza do homem que errou. E, se Pedro, falando em perdoar sete vezes -"sete" é um número de plenitude - já está achando que está sendo muito generoso, Jesus vai muito além: "Eu não te digo sete vezes, mas setenta vezes sete vezes" (v 21 ). O que quer dizer perdoar sempre. É a lei do Evangelho. O perdão! Talvez o aspecto mais difícil da caridade. Há muito cristão - será mesmo cristão? - que não sabe perdoar. Apesar de rezar todos os dias "Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido". E é bom lembrar que o perdão, dado com sinceridade, ajuda o irmão a se corrigir. Sobretudo se, de maneira oportuna, houver um diálogo com ele, mostrando-lhe como está errado. Aí entra toda a pedagogia das mães, que perdoam as faltas de seus filhos - elas perdoam mesmo "setenta vezes sete vezes" - e pouco a pouco os vão educando para que se corrijam. Quem não recebe o perdão, é levado ao desânimo e até ao desespero. O diálogo com Pedro sobre o perdão a alguém que nos ofendeu, sugere - pelo menos na redação de Mateus - uma preciosa parábola que já tem em vista o pecado contra Deus, tantas vezes lembrado nas parábolas na figura de um rei. Jesus diz que o Reino dos céus é semelhante a um rei que quis acertar as contas com seus funcionários. Encontrou um que lhe devia uma quantia absurda: dez mil talentos! Para se ter uma idéia disso, convém lembrar que dez mil talentos correspondiam a sessenta milhões de denários, sendo que o denário era o que ganhava como diária um trabalhador comum. Essa quantia, ouvida pelo povo, sugeria algo de incalculável. Nunca ninguém tinha visto isso! Jesus quis mesmo insistir no tamanho da dívida, já insinuando a gravidade de um pecado contra Deus. Na parábola, o rei, informado do tamanho da dívida - que faz supor tratar - se de um funcionário graduado, provavelmente envolvido em negócios desonestos - mandou que o vendessem a ele, à mulher e aos filhos, e a todos os seus bens, até que pagasse tudo. Fatos assim aconteciam naquele tempo, como se pode ver no caso da pobre viúva que foi pedir socorro ao profeta Eliseu, porque aparecera um credor de seu finado marido, exigindo que ela lhe entregasse seus dois filhos para fazê-Ios escravos (2 Rs 4,1 ss). O funcionário, ao ouvir essa ordem do rei, caiu-Ihe aos pés, suplicando em altas vozes: "Tem paciência comigo, e tudo te pagarei". E o rei se comoveu. Perdoou-lhe toda a dívida. E ele partiu satisfeito (Cfr Mt 18,23-27). Mas aconteceu que, ao sair da presença do rei, o funcionário se encontrou com um seu companheiro que lhe devia cem denários. E foi logo exigindo: "Paga-me o que me deves". Caindo-lhe aos pés, o companheiro suplicava angustiosamente: "Tem paciência comigo, e tudo te pagarei". Ele, porém, não quis saber de nada. Mandou pô-Io na cadeia até que pagasse toda a dívida. Naturalmente o rei veio, a saber. E voltou atrás no seu perdão. Apesar do provérbio "palavra de rei não volta atrás", o caso era tão revoltante, que saía fora todas as normas de conveniência. Reprovando com veemência o funcionário, entregou-o nas mãos do carrasco, até que pagasse tudo o que devia (cfr. Ibid., 28-34). E vem o final da parábola, já transpondo-a para o juízo de Deus. “Disse Jesus: É assim que o meu Pai do céu vos tratará, se cada um não perdoar a seu irmão de todo o coração” (Ibid., 35). Não sem razão Jesus ensinou a rezar: "Perdoai-nos... como nós perdoamos". Evidentemente o julgamento de Deus não segue o estilo do rei da parábola. Mas, de qualquer maneira, fica a grande lição: Não merece o perdão de Deus aquele que não. Souber perdoar a seu irmão. Sobretudo olhando para a Imensa desproporção entre uma ofensa que alguém nos possa fazer, e o pecado que cometemos contra a majestade e a bondade de Deus.





Pe. Rosevaldo Bahls
padrerosevald@terra.com.br
Cascavel, 11 de 09 de 2011.

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