HOMILIA
DA SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS, DIA 01 DE 11 DE 2014.
Santidade: divinização do homem
Somente Deus é santo! A ele toda a glória e
adoração! É isso que nós dizemos em cada celebração eucarística: Santo, Santo,
Santo! Desta maneira nós celebramos a transcendência de Deus, que está acima de
tudo e do qual tudo depende. Diante do Deus Santo e, neste sentido, do
Totalmente Outro, a nossa proclamação acaba por emudecer-se, pois diante dele
cessam as palavras humanas: “à medida que nos aproximamos do cimo, as nossas
palavras diminuirão e, no final da subida a essa montanha, nós estaremos
totalmente mudos e plenamente unidos ao Inefável” (Pseudo-Dionísio Areopagita, Teologia
Mística, c. 3). Não obstante, Deus quis fazer-nos participantes da sua
santidade. Por seu desígnio salvador, nós fomos consagrados no momento do nosso
batismo e nos aproximamos da montanha da santidade. A partir daquele momento, a
santidade para nós pode ser descrita como um processo no qual confluem a graça
de Deus e a generosa correspondência humana. Neste processo tem lugar uma luta
constante na qual um filho de Deus vai se parecendo cada vez mais com o seu
Pai-Deus à espera que um dia se manifeste a plena semelhança com a divindade no
próprio ser da criatura. A santidade é acessível a todos porque Deus quer que
todos os homens e mulheres sejam santos, isto é, participem da sua Vida e do
seu Amor. O Pai deseja que, através da ação do Espírito Santo em nós, nos
pareçamos cada vez mais com o seu Filho Jesus Cristo. Em resumo, a santidade é
o desenvolvimento da nossa filiação divina: “desde agora somos filhos de
Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. Sabemos que quando isto
se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porquanto o veremos como ele é” (1
Jo 3,2). Como se pode observar, a serpente astuta que aparece no livro do
Gênesis, enganando os nossos primeiros pais, não estava tão equivocada: podemos
ser como deuses, ou seja, podemos ser divinizados pela graça de Deus e
parecer-nos a ele já aqui nesta terra e depois, eternamente, no céu. O erro da
serpente não estava nesta afirmação – sereis como deuses – mas no método
para alcançar esse objetivo. A serpente demoníaca propôs o orgulho e a
desobediência para alcançar a divinização. Nada mais contraditório! O caminho é
justamente outro: a humildade e a obediência acompanhadas da mais nobre de
todas as virtudes, a caridade. “Deus é amor” (1 Jo 4,8.16) e nós podemos
amar, “mas amamos, porque Deus nos amou primeiro” (1 Jo 4,19). A
santidade se mede pelo amor: quem mais ama é mais santo; quem menos ama é menos
santo; quem não ama nada, não é santo. De tudo isso é fácil concluir que a
santidade não é algo exterior, caricaturesca, rígida, sombria ou até mesmo
triste. Não! O santo é uma pessoa com uma profunda vida interior, com uma grande
unidade de vida, uma pessoa coerente, flexível, cheia de luz e de alegria. Uma
pessoa santa é um ser humano bem normal no seu dia-a-dia, mas os outros intuem
que leva dentro de si algo diferente: o amor de Deus atuante e atualizador. Se
Deus, o Totalmente Outro, quis fazer-se um de nós, quanto mais nós, sendo o que
somos, devemos ser nós mesmos! Que sejamos cada vez mais simples, amemos de
verdade, façamo-nos próximos aos outros seres humanos. Nós estamos,
efetivamente, inseridos na grande massa humana, nós somos como os outros. E, no
entanto, Deus nos conhece pelo nome, nos fez seus filhos e quer ver-nos um dia
com ele no céu. Santidade! Esse é o segredo que o cristão deve ter para
aproximar muitas pessoas de Deus. Mas, por favor, não vamos mostrar a santidade
como uma coisa esquisita, rara, estranha. Vamos ser bem normaizinhos: comemos,
bebemos, trabalhamos, saímos com os amigos e… até tomamos uma cervejinha (com
moderação!). Na verdade, nós somos as pessoas verdadeiramente normais porque a
vivência das virtudes humanas (prudência, justiça, fortaleza, temperança etc.)
e sobrenaturais (fé, esperança e caridade) vai não somente nos divinizar, mas
também humanizar-nos cada vez mais. Quem quer ser uma pessoa humana
verdadeiramente realizada não tem mais que olhar para aquele que é Perfeito
Homem, Jesus Cristo, e unir-se a ele para ser divinizado por ele, que é
Perfeito Deus. Quem são os santos? Uns bem-aventurados, os felizes desta terra.
Quem pode ser santo? Todos. Como ser santo? Basta unir-se a Deus através dos
sacramentos, da oração e duma luta contínua para dar gosto ao Pai e ao Filho e
ao Espírito Santo. Qual é a finalidade de uma pessoa santa? Unir-se ao Santo
dos santos e arrastar livremente muitas outras pessoas que lutaram para
alcançar à santidade, a felicidade, a plenitude da vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário