quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

31 DE DEZEMBRO DE 2012 DO ANO C.



Primeira leitura: 1jo 2, 18-21
 Sl: 96 (95)
Evangelho: Jo 1,1-18

A Sagrada Liturgia da Palavra de hoje nos apresenta, por um lado, uma autêntica tragédia; por outro, uma grande graça (cf. Mt 2,13-18). Talvez, ao fazermos o balanço do ano que já está se despedindo, possamos perceber também estes dois momentos se entrelaçando em nossas lembranças. Mas como será possível um mundo – e ano – tão amado por Deus e, ao mesmo tempo, tão visitado pelos imprevistos causados pelos pecados humanos? E por que não dizer, humildemente, “minha culpa, minha tão grande culpa”!
Retornando ao texto evangélico, deparamo-nos com a Boa Nova acontecendo por meio da docilidade de fé do pai adotivo de Jesus: “O Anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse: ‘Levanta-te, pega o menino e sua mãe e foge para o Egito! Fica lá até que eu te avise!’” (Mt 2,13). A Providência Santíssima pôde contar com o glorioso São




José, não somente para se levantar e ir a um lugar seguro com a Sagrada Família, mas para o momento certo do retorno à pátria.
É sempre assim com Deus, “há um tempo para cada coisa”, mas somente os homens de fé e coragem poderão experimentar e constatar esta graça nos momentos tranquilos e dificultosos da vida. Outros até recebem os gratuitos presentes do Senhor, mas preferem, na ignorância e cegueira espiritual, atribuir os bens recebidos
à sorte ou às criaturas que, na verdade, são meios da providência cientes ou não. E o que Deus faz? Continua amando e investindo na conversão de Seus amados filhos e filhas, até se descobrirem o quão amáveis são!
No caso da Virgem Maria e São José, eles constataram a presença do Protetor e Rocha Eterna também em meio às provações da vida! Repito: da vida. “Porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo” (v. 13). São José não pediu explicações a Deus nem foi imprudentemente perguntar a Herodes, o porquê daquela atitude injusta e louca perante o Rei dos Reis, da estirpe de Davi, Salvador e Cristo. São José simplesmente colocou em prática a sua fé obediente e, assim, a Sagrada Família foi salva! Mas, infelizmente, a desgraça não deixou de ferir o coração de Deus, por causa do orgulho ferido de Herodes: “Quando Herodes percebeu que os magos o haviam enganado, ficou muito furioso. Mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o território vizinho, de dois anos para baixo, exatamente conforme o tempo indicado pelos magos” (v.16).
Um histórico afresco (pintura), presente no lugar do encontro da Virgem Maria com Santa Isabel, na Palestina, retrata a matança dos Santos Inocentes e faz questão de recordar que, por traz de uma Rocha, o pequenino São João Batista foi escondido e também se livrou deste




infanticídio. Esta Rocha da Vida é a Providência Santíssima que, se possível fosse, evitaria a morte de todos os inocentes do passado e do presente.
Sobre este mistério da ação de Deus no mundo e a rebeldia ou docilidade humana, muito bem escreveu o Papa Bento XVI em seu último livro da trilogia ‘Jesus de Nazaré’, ao tratar da exemplar docilidade de fé da Virgem Maria, que possibilitou a encarnação do Verbo: “Agora, Deus procura entrar de novo no mundo, por isso bate à porta de Maria.
Tem necessidade do concurso da liberdade humana; não pode redimir o homem, criado livre, sem um ‘sim’ livre à Sua vontade. Ao criar a liberdade, de certo modo, Deus se tornou dependente do homem. O Seu poder está ligado ao ‘sim’ não forçado de uma pessoa humana” (BENTO XVI, A infância de Jesus, 37).
Assim Deus, em Sua infinita bondade, continua a bater na porta dos corações para que a vida possa acontecer, desenvolver-se e manifestar-se ao mundo. Mas quantos permitem isso? Terá Deus de fazer todas as coisas, tratando o ser humano como marionete e contradizendo o dom irrevogável da liberdade? De fato, muitos não ouviram a Palavra de Deus para poderem crer e mudar de vida, mas ninguém perante o tribunal divino poderá alegar a falta de liberdade e a neutralidade de uma lei interior que dita em cada ser humano uma Palavra de vida  que em todos está impressa: “vivei o bem e evitai o mal”. Por isso também a Palavra do Senhor não deixa de exortar a cada ser humano: “Falai e procedei, pois, como pessoas que vão ser julgadas pela Lei da liberdade” (Tg 2, 12). Neste ponto, também a perícope que nos propomos meditar na proximidade de um próximo ano, do calendário civil, acaba por nos apontar o Norte, pois “ali ficou até a morte de Herodes, para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: Do Egito chamei o meu Filho” (Mt 2, 15).
Somente Deus pode dar sentido às desgraças que acabam



por atingir a nós, à Igreja e à humanidade em geral. Não como um Senhor controlador, mas como o amoroso Deus, Todo-Poderoso que pode e sabe, a Seu tempo, tirar um bem de qualquer realidade, principalmente daquela por Ele não desejada e tão pouco participada. Portanto, nestes dias que ainda nos restam de ano e de vida, recorramos à Palavra do Senhor e do Espírito Santo, o qual age principalmente pelos sacramentos, para que o nosso falar e proceder possa corresponder aos dons recebidos, sem
jamais condenar aqueles que caminham conosco: “Pensai bem: o julgamento vai ser sem misericórdia para quem não praticou misericórdia; a misericórdia, porém, triunfa sobre o julgamento” (Tg 2,13).
Faço a você o último pedido do ano: não digamos mais que é complicado (tudo o que toca a nossa responsabilidade), embora seja complexo e até misterioso boa parte das coisas nesta bela vida.
Feliz Ano Novo, com fé dócil à Palavra de Deus e ao Espírito Santo, misericórdia Divina para conosco e de nós para todos os demais!
Pe. Rosevaldo Bahls
Cascavel 28 de 12 de 2012.

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